domingo, 31 de dezembro de 2017

“Cada um educa seu filho do jeito que acha que deve”


*a imagem é meramente ilustrativa. Cada indivíduo é único e pode apresentar características diferentes um do outro, inclusive não apresentadas nesta imagem.
É fácil e normal ouvir esta frase quando se está numa situação confortável, mas quando se trata de uma situação como a minha, um filho com transtorno do espectro autista (no nosso caso, Síndrome de Asperger), tudo pode mudar.

A família das pessoas com este diagnóstico se esforçam ao máximo para que elas se desenvolvam e, o que não deveria de ser, que a sociedade compreenda que suas dificuldades nada têm a ver com a falta de educação.

A dificuldade em entender e expressar emoções, a dificuldade nas regras sociais, interesses limitados, rigidez  e o baixo nível de tolerância à frustração que muitas vezes se confunde com teimosia e indisciplina, fazem parte do rol de características que podem ter pessoas com autismo.

É muito fácil julgar quando não se participa do dia a dia destas pessoas. São terapias, medicamentos e muito esforço das famílias e das próprias pessoas para que fiquem mais parecidas com esta sociedade da qual TODOS fazemos parte. Será que isto é certo? Sempre me questiono.

Outro dia lia um texto da Giselli Zambiazzi sobre o que é trivial nas nossas casas e nas demais casas da sociedade. Na minha casa é trivial meu filho ficar nervoso e nos acusar sobre o mau funcionamento da internet. Isso não é falta de educação, isso é rigidez de pensamento e não vai se resolver colocando-o de castigo (sem o computador) porque na próxima oportunidade ele vai nos acusar novamente. Qual a melhor maneira de agir? Ignorar e aguardar o “obrigado” vir do quarto dele como se alguém tivesse deixado de usar a internet para deixá-la livre para ele, como aconteceu ontem.

O que eu quero dizer com tudo isso? O mesmo que a Giselli disse em seu texto: “Perguntar é permitido. Querer entender é bem vindo. Julgar e condenar, não.”

Ouvir isso no final de mais um ano de muita luta, mas de muitas conquistas, me fez repensar o meu empenho como mãe. Teria sido incompetente?

Por uns instantes me peguei angustiada por não ter conseguido ainda ajudar meu filho superar esta rigidez de pensamento, que muitas vezes assusta, assim como me peguei triste por ainda não ter conseguido conscientizar as pessoas da minha própria família sobre as tais trivialidades.

Pelo viés da educação, me peguei pensando que fiz o que foi possível, afinal, educar depende “do jeito” daquele que aprende. Educar é uma via de mão dupla que tem sempre o emissor e o receptor, e tudo depende de como o cérebro funciona.

De tudo isso, só me resta dizer que antes de julgar alguém, coloque-se no lugar. Já compararam o esgotamento das mães de autistas ao de soldados de guerra. E eu não quero ir para a guerra...

sábado, 19 de março de 2016

II ENCONTRO DE AUTISMO DO NÚCLEO CONEXÃO

"Um dia para trocar informações que fazem a diferença na vida das pessoas no espectro, com vivências reais."

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PROGRAMAÇÃO

quarta-feira, 8 de julho de 2015

VAMOS FALAR DE ADAPTAÇÃO CURRICULAR? Um direito do aluno, um dever da escola.

               Sempre que falamos em inclusão de pessoas com deficiência na escola regular, em específico aqui as pessoas com TEA, nos deparamos com professores preocupados com “o que fazer” com relação aos conteúdos, a metodologia e as estratégias que são utilizadas em sala de aula. É muito comum ouvirmos “eles não acompanham a turma” ou “eles não entendem o que é para fazer”.
               De acordo com a LDB 9394/96, a União deverá incumbir-se de
IV- estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;

E com relação à educação especial mais especificamente,
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;

               Além do exposto acima, de acordo com a nota técnica n° 24/2013 – MEC/SECADI/DPEE, que orienta os sistemas de ensino sobre a implementação da Lei n° 12.764/2012 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista,
Para a realização do direito das pessoas com deficiência à educação, o art. 24 da CDPD (ONU/2006) estabelece que estas não devem ser excluídas do sistema regular de ensino sob alegação de deficiência, mas terem acesso a uma educação inclusiva, em igualdade de condições com as demais pessoas, na comunidade em que vivem e terem garantidas as adaptações razoáveis de acordo com suas necessidades individuais, no contexto do ensino regular, efetivando-se, assim, medidas de apoio em ambientes que maximizem seu desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.

Assim sendo, é perceptível o direito do estudante com TEA ou qualquer outra deficiência e o dever do sistema de ensino, a adaptação curricular que está longe de ser como muitos ainda insistem em fazer: oferecer, por exemplo, um “desenho livre” ao aluno com TEA que se recusa escrever enquanto os demais colegas fazem uma atividade escrita sobre qualquer conteúdo do currículo. Adaptar, neste contexto, quer dizer tornar acessível. Ou seja, se o assunto da aula é corpo humano, TODOS, sem exceção, farão atividades sobre o corpo humano.
Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem aprender por memorização e não por intuição e têm dificuldade em transferir aptidões ou expectativas que aprenderam em determinada situação. Além disso, com imaginação limitada é difícil solucionar problemas, pensar com criatividade em certos aspectos, assim como entender piadas, brincar ou entender regras sociais (Moore, 2002).
               Somado a estas características, a dificuldade de comunicação pode acarretar certos comportamentos que para nós podem parecer rebeldia, como o uso de expressões “não vou fazer”, “não sei” (mesmo que saiba), ou ainda fuga como outras crianças fazem, com o uso de expressões como “estou com dor, liga para minha mãe”, quando uma situação lhe causa desconforto num momento de possível “desorganização interna”.
               Sabe-se também que a escrita manual é muitas vezes rejeitada, no entanto é preciso enfatizar que esta é uma característica que muitas pessoas com TEA apresentam, afinal, é muito mais cansativo e difícil para eles transformar algo “pensado” ou “lido” em letras, palavras ou sentenças grafadas. É um exercício muito complexo que leva muito tempo e demanda muita concentração, atenção, organização e coordenação motora, dificuldades muito presentes em suas vidas.
Na escola, tais características e dificuldades se tornam mais evidentes em função da visibilidade e da própria dinâmica escolar e, a adaptação do ambiente bem como a curricular se faz necessária para que a aprendizagem seja garantida a este estudante. E vocês devem estar perguntando: como adaptar?
               O primeiro passo é conhecer as potencialidades do seu aluno com TEA, bem como suas dificuldades. A partir disso, pense em sua sala de aula como um todo e pergunte-se: o que posso fazer para atender a TODOS sem que as potencialidades do meu aluno com TEA sejam desprezadas e suas dificuldades virem barreiras durante a atividade? Ou ainda, elabore a atividade para a turma e pense numa estratégia para que seu aluno com TEA possa realizá-la também, em dupla, oralmente ou de qualquer outra maneira que o fizer mais confortável. O importante é que ele participe da aula e tenha acesso ao mesmo currículo que os demais colegas de sua turma!
               Em muitos casos, menos é mais! Diminuir a quantidade de questões, reduzir ou resumir um texto são estratégias simples e que podem fazer uma enorme diferença, a TODOS!
               Ainda podemos contar com outras estratégias, como: questões curtas e objetivas; nunca ser subjetivo, usar pegadinhas ou charges; testes de múltipla escolha (sem pegadinhas, com alternativas bem objetivas); interpretação de gráficos, figuras, imagens e diagramas; reconhecimento de informações ausentes ou erradas; identificação de semelhanças e diferenças; cruzadinhas e caça palavras; reconhecimento de informações em um texto com a possibilidade de grifar ou circular a resposta correta; utilização de filmes em detrimento a leitura de livros, e tudo mais que sua imaginação e criatividade permitirem!

               Enfim, penso que muito acima de leis, decretos, notas técnicas e afins, está o aluno com suas características específicas, dentro ou não do Espectro Autista, nos aguardando ansiosos para a próxima aula! Até mais...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

ENTRE PAIS E PROFESSORES: UMA CONVERSA FRANCA

Sabe aquela sensação de que você não está fazendo a coisa certa? Pois é, é isto que sinto quando vocês professores me questionam sobre as atitudes do meu filho. Sim, sou capaz de reconhecer a minha incapacidade de dar limites e ensinar regras básicas de convivência social. Tenho vergonha, tenho vontade de chorar, gritar, sair correndo, pedir socorro, na esperança de que alguém ou algo aconteça e tudo aquilo deixe de existir.
               Sim, eu sei que vocês também sofrem. Sou professora também. É um sentimento de incapacidade de domínio da turma, e até de “como posso permitir que me trate assim perante os outros 40? Ele não é nada meu, é um mal educado! Imagina se todos resolvem agir assim...”. Sei que num momento de agressão verbal que seja, a vontade é de punir, de que saiam com aquele aluno dali, de que ele não existisse ali, ou até mesmo de nós mesmos sumirmos. Aí vem o choro, a raiva, o questionamento sobre o que é ser professor. Sei bem o que é isso.
Mas espera um pouco, preciso lhes contar uma coisa, um detalhe de nossas vidas que talvez os façam refletir um pouco sobre essa acusação que é muito presente nas escolas. E que eu mesma já fiz antes de começar a olhar melhor para o meu filho.
Uma folha de papel me separa do meu filho, da minha capacidade de ensinar e da capacidade dele de aprender, assim como deve separar muitas outras mães de seus filhos. Um diagnóstico, um histórico que vocês não conhecem e que talvez nem se preocuparam em conhecer antes de julgar. É como julgar a birra de uma criança no meio de um shopping...
O diagnóstico de Síndrome de Asperger (SA) ou Transtorno do Espetro Autista (TEA) faz toda diferença. As crianças com SA não percebem o mundo como seus colegas, podem ter dificuldade em se colocar no lugar do outro, suas habilidades de planejamento, priorização e organização (funções executivas) podem ser muito afetadas, normalmente são pensadores rígidos quanto a opiniões e mudanças, pouco controlam seus impulsos, podem possuir boa memória para decorar, mas ter dificuldade com a memória significativa, podem apresentar deficiências de aprendizado ou apresentar talentos ou habilidades superiores, mas terem dificuldade para a escrita, entre tantas outras características.
Essas características que se apresentam de modo singular em cada criança com SA (não existe um Aspie igual ao outro!), os faz “funcionar” e aprender de forma diferente dos demais. Os tornam ansiosos, uns mais outros menos, é fato, o que pode acarretar a algumas crianças comportamentos indesejados em sala de aula, como a autoagressão ou a heteroagressão, que pode ser verbal ou física ou ainda comportamentos destrutivos que atingem objetos e mobiliários.
Então eles nunca vão aprender as regras sociais, por exemplo? Sim, claro que vão! Mas de uma maneira diferente e num tempo diferente. A punição não vai funcionar como para os outros talvez funcione (eu acho que não funciona com ninguém, mas é minha opinião!), mas um trabalho de responsabilização e de muita conversa concreta, no dia a dia e contínua, com o apoio dos profissionais da saúde, como o psicólogo e o psiquiatra, além do psicopedagogo ou do educador especial, pode garantir (e por experiência própria) o sucesso da aprendizagem.
Mas o que o professor faz numa situação que foge do controle, de “explosão”? Nada. Como assim? Depois que houve a “explosão” é importante que a criança se acalme sozinha, sem estímulos sensoriais, ou seja, tire-o daquele ambiente ou retire a todos dali e retome a situação somente quando tiver certeza de que está tudo sob controle, caso contrário estará correndo o risco de piorar tudo. As “explosões” ocorrem porque a criança está internamente “desorganizada” e não consegue comunicar o que está sentindo. Somente se acalmará quando se sentir confortável, fora de perigo. No entanto, há como se evitar que situações extremas aconteçam.
É importante que mesmo com uma sala superlotada vocês não percam a criança de vista, para isso, coloque-a sempre na primeira carteira, perto de suas mesas, pois a qualquer sinal de maior ansiedade, irritabilidade, inquietude, hiperatividade, vocês poderão sugerir que dê uma volta, tome uma água ou mesmo leve um bilhete a algum lugar a fim de que tenha tempo para se acalmar. Num trabalho em grupo, por exemplo, circulem pela sala, num trabalho em dupla, dêem preferência a colocá-la junto ao colega de maior empatia e que mais tenha paciência. Outras inúmeras estratégias são possíveis, converse, mantenha uma relação de colaboração com o professor especialista ou com o psicopedagogo que atende a criança. Faça combinados, eles costumam ser muito fiéis quando combinam algo!
Enfim, é sim possível ter um Aspie em sala de aula, desde que tenhamos conhecimento de suas características. Para isso, não hesitem em perguntar à família e à equipe que o atende. Tenha-os como parceiros de trabalho. Conhecendo suas particularidades vocês vão conseguir antecipar episódios disruptivos e aproveitar todo potencial cognitivo que um Aspie pode oferecer!

terça-feira, 26 de maio de 2015

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR

Bem sabemos o quanto está difícil a sala de aula hoje em dia, não é mesmo? Salas superlotadas, alunos indisciplinados, falta de recursos, sem falar na falta de incentivo moral, psíquico e econômico. 

Para “ajudar” há esta tal de escola inclusiva, a qual se trabalha com uma diversidade que não conhecemos e que não fomos formados para formar. São pessoas com diversos tipos de deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação e altas habilidades que se misturam àqueles que não se encaixam em nenhum destes quadros, nem mesmo à normalidade, mas que apresentam dificuldades de aprendizagem, déficit de atenção, transtornos de humor, etc, etc, etc.

O professor no mínimo deve ser um super-herói não é mesmo? Não. Não há necessidade para tanto.
Vamos pensar em especial no árduo trabalho com os alunos com transtornos globais do desenvolvimento (TGD), ou como queiram transtornos do espectro autista (TEA), ou ainda, simplificando, os autistas. Este público, em especial, é especial, não? Cada um é um. Cada um com um conjunto distinto de características, introspectivos ou hiperativos, não verbais ou falantes demais, agressivos ou passivos, ótimos em matemática ou em música, enfim, uma infinidade de características que percebemos com o convívio e que nem sempre sabemos lidar.

Imaginem um estudante que apresente grau leve de TEA, síndrome de asperger, inteligente, falante, hiperativo, rigidez de pensamento, dificuldade em lidar com frustrações e muita dificuldade em sociabilização. Chega à escola, como de costume, dirige-se à sala de aula com uma rotina organizada em sua mente (sim eles se prendem muito a rotinas!), e de repente é surpreendido com a notícia de que naquele dia o professor de matemática faltará.

É a disciplina que ele mais gosta, está mais adiantado que toda a turma e estava ansioso pela aula (sim eles podem sofrer de transtorno de ansiedade!) porque tinha feito um exercício extra e queria muito saber a resposta. Pronto, a rotina que antes estava organizada se desorganiza e causa um enorme desconforto. Este aluno levará um tempo até que tudo volte ao seu lugar internamente. Até aí tudo bem, não fosse a professora da aula seguinte entrar e dar o seguinte comando: façam um texto de 20 linhas sobre suas férias. O aluno questiona a professora, usando seus argumentos: não vou fazer porque agora era aula de matemática e não sou obrigado a contar sobre as minhas férias para ninguém. A professora responde usando os seus argumentos: problema seu, vai ficar sem nota. Pronto, o que estava desorganizado contribui para que este estudante não consiga pensar que aquela professora estaria cumprindo o que fora lhe ordenado, no caso, cobrir o horário e cumprir com o conteúdo, e que se conversasse adequadamente talvez pudesse chegar a um acordo com a mesma, como qualquer outro aluno pudesse fazer. Booom! A aula acaba ali, professora destroçada, aluno extremamente agressivo e desconsertado, vamos chamar a família (este é um assunto para um próximo post).

A prática pedagógica nos permite manobras, até em momentos como este, e se pararmos para refletir sobre nossa ação docente perceberemos que fazemos muito, mas é a busca por conhecimento, a atualização de saberes e a leitura constante que nos faz cada vez melhor e mais próximo da realidade que temos.

Tenho certeza de que devem estar pensando: na teoria é uma coisa, na prática é outra... Concordo, mas em partes. Pode ser que com a prática aprendemos a lidar com o problema ali, naquele momento, mas o que estaria por trás daquilo tudo? Como evitar para que não aconteça novamente? O que precisaria ter feito para evitar que acontecesse?

O mundo mudou. Nós mudamos. Nossos alunos mudaram. E nossa prática docente, é a mesma de quando nos formamos? Mario Sérgio Cortella, em palestra sobre os paradigmas da tecnologia na educação, nos chama de “professores mornos” se assim pensamos (clique aqui para saber mais), diz que se “Eu nasci a 10000 anos atrás” como dizia Raul Seixas, e continuo pensando como tal, não cresci, não aprendi. Logo, se não sou bom “aprendente”, não sou bom “ensinante”.

Sendo assim, para saber mais sobre TEA, sugiro algumas andanças pelas quais iniciei minha jornada como professora de adolescentes com autismo e mãe de Aspie... Divirtam-se:




terça-feira, 25 de novembro de 2014

ÚLTIMO DIA DE AULA, ÚLTIMO DIA DE AULA!



          Sabe aquela cena do filme “Procurando Nemo” (Disney/Pixar) em que o próprio acorda o pai todo exaltante gritando “Primeiro dia de aula, primeiro dia de aula!”? Pois, é, não me saiu da cabeça desde a terça-feira que meu filho chegou em casa dizendo que o dia seguinte seria o seu último.
          Num ímpeto de repetir a cena, só que dizendo “Último dia de aula, último dia de aula”, o acordei naquela quarta com uma sensação de dever cumprido, de estar encerrando um ano fatídico, um ano difícil em relação à inclusão escolar, mas devo admitir, muito melhor que os dois últimos.
          Jamais pensei que como professora eu pudesse desejar que as férias chegassem logo, que meu filho pudesse deixar de ir à escola, mesmo que fosse para deixar de desenvolver suas funções psicológicas superiores[i], cujo papel mediador é preponderante e insubstituível da ESCOLA.
          Nesta relação mãe e filho, já não sei se sou mãe ou professora...
          É uma angústia que se acaba com a chegada das férias, uma ansiedade que se aquieta e uma sensação de liberdade que vai tomando conta do dia-a-dia até que as aulas se iniciem novamente.
          Ao mesmo tempo, uma dúvida vai incomodando cada vez mais, fazendo com que eu não relaxe totalmente, com que eu não pare. A incerteza do futuro acaba com a gente, não? E não estou falando de um futuro muito distante, estou falando do próximo ano escolar... Será que os professores estarão melhor preparados? Será que a escola estará mais acessível? Será que as estratégias de ensino estarão mais adequadas ao meu Nemo e a tantos outros? Será, será, será...
          Acredito que muita coisa andou, meio que cambaleando, mas andou. Tivemos muitos progressos, é fato, mas é preciso um trabalho árduo, num caminho de muita dedicação, amor, e busca por conhecimento que a escola no Brasil vai precisar percorrer, que a sociedade vai precisar trilhar. Estamos muito atrasados com relação à inclusão, mas já podemos notar o esforço de alguns.
Carecemos de atendimento multidisciplinar na saúde, mas acima de tudo, que este atendimento esteja articulado com a escola e a família. É este movimento que permite que todos conheçam as necessidades e as habilidades de nossos filhos, de nossos estudantes. Outro dia, ouvi da diretora da escola do meu filho um pedido de paciência, pois sempre buscaram a parceria com a família e os profissionais da saúde que atendiam seus alunos, mas que era novidade aquilo tudo acontecer, que não estavam acostumados com toda assistência que estava sendo oferecida por mim até então.
Além desta dificuldade, o que vejo de mais “dificultoso” neste tentar inclusivo é o fato de sempre estar comparando esta com aquela criança. Cada caso é um caso, não somos iguais e, neste, temos a denominação de Transtorno do Espectro Autista justamente pelo ESPECTRO que abarca.
Escolas, vamos nos atentar à pessoa como única, desenvolver suas habilidades e não nos deter somente às suas dificuldades. 

À sua nadadeira que não se desenvolveu tão bem quanto a outra, vamos dar apoio. Vamos nos unir à família, ouvir o que eles nos trazem, seguir suas orientações e dos profissionais que acompanham a criança, afinal, eles convivem com ela desde sempre. Vamos buscar conhecimento, pedir ajuda antes que o Nemo se perca.




[i] Funções psicológicas superiores: processos mentais e simbólicos na relação do homem com o mundo, as ciências, a arte, a linguagem, o cálculo, a memória cultural, a tecnologia (...), segundo Oliveira (2014).

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ATÉ QUANDO?

É um misto de sensações que me invade a cada toque do telefone. Sinto uma euforia enorme, uma ansiedade para que não seja quem eu estou pensando que é.
E quando me certifico da identidade de quem me chama ao telefone, uma angústia, uma vontade de sair correndo, um sei lá o quê.
Desligo e tento me acalmar, e quase sempre em vão... Os minutos passam e eu preciso sair, resolver aquilo que no meu entender de professora, faz parte do papel da escola, resolver aquilo que deveria ser resolvido pelos envolvidos, resolver aquilo que não se consegue resolver por falta de conhecimento e habilidades.
Até quando? – pergunto. Até quando o meu papel de mãe vai se misturar com o de educadora? Até quando serei o porto seguro da escola? Até quando não terei meu próprio porto seguro, a escola como parceira?
Falamos 10, 20 vezes as mesmas coisas e, no entanto, tudo se repete. Por quê? Por que os profissionais da educação são tão resistentes, tão cheios de si e ao mesmo tempo vazios de conhecimento que insistem em não buscar? Tudo bem, é um conjunto de fatores que beneficiam situações tão “desastrosas”, mas não podemos continuar assim.
Uma educação de qualidade é aquela que alcança a diversidade, que ensina e também aprende, é uma incansável e inesgotável fonte de possibilidades que nos remete a um final que quem escolhe é o educador.
Me pergunto, até quando? Até quando vou sentir este misto de emoções que nem sei explicar? Até quando vou ter de esperar para sentir a certeza de que tudo está no caminho certo?
Até quando teremos que esperar por professores formados para a diversidade, por uma sociedade livre de preconceitos, por uma escola que acolhe? Até quando?
O autismo não tem cura, não há medicamento ou terapia que faça com que a criança com autismo se comporte e tenha opiniões iguais ao restante da sociedade que se considera “normal”.

Definitivamente acredito que teremos que aguardar até que a escola entenda seu papel e os professores entendam que as habilidades sociais podem ser treinadas, que a escola tem um papel decisivo neste treinamento e que sim, a criança com autismo pode estar na sala de aula regular se for compreendida, auxiliada e, principalmente, aceita como é.